No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.
A outra era noutra rua,
noutra cidade, e eu era outro.
Perco-me subitamente da visão imediata,
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
E a outra rapariga passa.
Que grande vantagem
o recordar intransigentemente!
Agora tenho pena de nunca mais
ter visto a outra rapariga,
E tenho pena de afinal
nem sequer ter olhado para esta.
Que grande vantagem trazer
a alma virada do avesso!
Ao menos escrevem-se versos.
Escrevem-se versos,
passa-se por doido,
e depois por gênio, se calhar,
Se calhar, ou até sem calhar,
Maravilha das celebridades!
Ia eu dizendo que
ao menos escrevem-se versos...
Mas isto era a respeito de uma rapariga,
De uma rapariga loira,
Mas qual delas?
Havia uma que vi há muito tempo
numa outra cidade,
Numa outra espécie de rua;
E houve esta que vi
há muito tempo numa outra cidade
Numa outra espécie de rua;
Por que todas as recordações
são a mesma recordação,
Tudo que foi é a mesma morte,
Ontem, hoje, quem sabe se até amanhã?
Um transeunte olha para mim
com uma estranheza ocasional.
Estaria eu a fazer versos
em gestos e caretas?
Pode ser... A rapariga loira?
É a mesma afinal...
Tudo é o mesmo afinal ...
Só eu, de qualquer modo,
não sou o mesmo,
e isto é o mesmo também afinal.
(Álvaro de Campos)
Nada melhor do que ter
por perto quem a gente possa
beijar
beijar
beijar.
( na foto: Eu e meu grude em Porto de
Galinhas semana passada.
Nem preciso dizer que estou odiando
ter que voltar pra velha SP chuvosa...)
4 comentários:
[tantas pessoas em Pessoa, tantos mundos dentro de Campos]
um imenso abraço, Ale
Leonardo B.
* pela partilha dessa felicidade, sempre grato!
Arretadissima, eu diria!
saudades de tu, Minha Lôra!
Beijos!
Oi Alê,
querida: estou com um poema novo se quiser opinar, ficarei feliz, veja um trecho:
Com as forças sobrenaturais
invadiste, tomaste meu corpo
antes que eu algo balbuciasse
sagaz, minha boca silenciaste.
Nada melhor do que um beijo afetuoso e sincero!
bjs moça querida.
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